La Niña a bordo: Qual o impacto no setor de Energia?

28 de outubro de 2021

Voltar

La Niña a bordo: Qual o impacto no setor de Energia?

Seja bem-vindo a bordo da La Niña. Para entender como o fenômeno pode impactar a geração de energia, nossa primeira parada será no oceano Pacífico onde o El Niño Oscilação Sul (ENOS) se forma. 

O ENOS é um fenômeno de grande importância para a Meteorologia por se tratar de um fenômeno de teleconexão, isto é, impacta as condições de tempo e clima em várias regiões do globo (CAI et al., 2020). O ENOS envolve a interação entre dois componentes: o oceano e a atmosfera. A parte oceânica é chamada de La Niña (El Niño) e envolve o resfriamento (aquecimento) anômalo das águas do oceano Pacífico tropical central e leste. Já a componente atmosférica refere-se à diferença de pressão entre Darwin (norte da Austrália) e Tahiti (ilha no Pacífico central), que está associada ao deslocamento das células de circulação de Walker (TIMMERMANN et al., 2018).
No dia 14 de outubro, o Climate Prediction Center (CPC) confirmou que já estamos a bordo da fase fria do ENOS, a La Niña, e que esta persistirá para os próximos meses. Essa informação é importante para entender os impactos do fenômeno na qualidade do próximo período chuvoso (verão de 2022), uma vez que o fenômeno afeta a circulação atmosférica e os sistemas de precipitação (GRIMM, 2004; CAI et al., 2020).

Na figura 1, são mostrados os tipos de La Niña, onde o resfriamento das águas pode se concentrar no Pacífico tropical leste (Canônica), próximo a América do Sul, ou no Pacífico tropical central (Modoki). Além disso, pode-se observar as anomalias de precipitação na América do Sul nos meses de verão (Dezembro, Janeiro e Fevereiro) em cada um dos casos. Na La Niña Canônica, anomalias negativas (positivas) de precipitação são observadas principalmente sobre a região Sul e Centro-Oeste (o norte da região Norte, nordeste da região Sudeste e no estado do Rio Grande do Norte) do Brasil. Por outro lado, na La Niña Modoki as anomalias negativas (positivas) são verificadas principalmente sobre as regiões Central e Nordeste do Brasil (Norte).

a) La Niña Pacífico Leste ou Canônica
b) La Niña Pacífico Central ou Modoki
Anomalia de Precipitação (mm/dia)
Fonte: Adaptado de Tadeschi et al. (2012).

Agora que já navegamos no oceano Pacífico e vimos como a La Niña pode afetar a precipitação na América do Sul, vamos atracar no setor de energia para entender como ele pode ser afetado. 

Desde a crise hídrica de 2014-2015 na região Sudeste, os reservatórios ainda não se recuperaram e suas consequências no abastecimento e geração hídrica são sentidas até os dias de hoje. Para a recuperação dos reservatórios, são necessárias estações chuvosas de qualidade, isto é, uma estação com alto volume de chuva bem distribuída temporal e espacialmente. 

Em uma fase de La Niña, a expectativa é que a geração hídrica no Sul do país seja afetada negativamente, principalmente em episódios canônicos, dada a possível redução da precipitação e, consequentemente, do abastecimento dos rios e reservatórios. Já nos episódios Modoki, espera-se que a geração hídrica seja afetada negativamente nas regiões Central e Sudeste do Brasil, podendo até afetar o padrão de convergência de umidade da região (GRIMM, 2004).

A geração eólica no Nordeste do país, região onde se encontram os principais parques eólicos, é afetada em anos de La Niña quando o potencial eólico na região sofre redução, isto porque a velocidade do vento diminui devido a mudança na circulação atmosférica (OLIVEIRA, 2007; ARAÚJO, JÚNIOR et al., 2014). 

Em condição de La Niña, espera-se que a geração solar seja favorecida em regiões com redução da precipitação, como as regiões Sul e Centro-Oeste do Brasil. Isto porque, com menor nebulosidade, mais radiação incide sobre as placas solares. Por outro lado, em regiões como Minas Gerais, estado que lidera o ranking de potência de geração solar instalada, o tipo de La Niña pode fazer muita diferença para a geração, isto é, espera-se que na La Niña Canônica a geração solar seja desfavorecida, enquanto na Modoki seja favorecida de acordo com as anomalias de precipitação. 

Terra à vista! Nesta curta jornada, vimos que além de conhecer as características da La Niña e seus impactos nos setores de energia, é preciso ficar de olho no tipo e intensidade do fenômeno.

Qual será a expectativa da Climatempo para os próximos meses?

A expectativa é que a partir de dezembro a La Niña ganhe força, sendo que as projeções dos modelos indicam uma La Niña de intensidade fraca a moderada. Atualmente, apresenta característica de La Niña Modoki e a tendência é que se mantenha assim nos próximos meses. Por isso, espera-se mais chuva na parte norte do Nordeste do Brasil (região litorânea), e menos chuva no Centro-Sul, principalmente durante o verão. Apesar disso, não há expectativa de que o fenômeno seja muito persistente, sendo que no início de 2022 comece a perder força, principalmente a partir de março.

Não sabe qual solução utilizar?

Fale com o especialista